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Com ouro, prata e bronze, Brasil tem dia de emoção com a superação de seus atletas e o quarto lugar momentâneo no ranking de medalhas

Os estrangeiros, quando se referem a nós, costumam sublinhar que somos um povo sorridente. Seria um bocado injusto tirar a razão deles. Somos. Mas se eles afirmassem exatamente o contrário, não estariam errados. Admitamos: também somos um país de chorões. Também sabemos chorar pelos cotovelos, chorar feito recém-nascidos, chorar a cântaros. E chorar, talvez mais do que tudo, pelo esporte. Que o diga o primeiro dia de disputas depois da abertura das Olimpíadas de Londres. Ele testou a moleza do coração brasileiro - com o perdão da pieguice da frase.

Foi difícil não acompanhar o judoca Felipe Kitadai em seu pranto (justificadamente) descontrolado com o bronze. Foi uma luta não balançar quando Sarah Menezes fez uma careta de choro ao ganhar um ouro que precisa de novos adjetivos para enfeitá-lo – os atuais, desgastados, não poderão expressar o verdadeiro tamanho dele. Foi complicado não se emocionar com a insistência de Thiago Pereira até a conquista da medalha de prata nos 400m medley.
Judoca Sarah Menezes comemora conquista da medalha de ouro (Foto: Agência AFP)Sarah Menezes chora: é dela a primeira medalha de ouro do judô feminino do Brasil (Foto: Agência AFP)
Que dia. Vale ressaltar o inusitado do início da tarde deste sábado: por alguns minutos, estivemos no topo do ranking de medalhas dos Jogos. Azar que tenha durado tão pouco. O importante é que não será mentira dizer que estivemos, neste 28 de julho, à frente de todo mundo – até dos Estados Unidos e da China, embora a diferença para os orientais, reconheçamos, tenha sido apenas por causa da ordem alfabética (ainda bem que não era, sabe-se lá, o Afeganistão...). A ocorrência escancara um fato: jamais o Brasil havia começado tão bem uma edição das Olimpíadas.
Felipe Kitadai comemora o bronze em Londres (Foto: Marcio Rodrigues / Fotocom.net)Felipe Kitadai cai em prantos: bronze dele abre dia
de vitórias (Foto: Marcio Rodrigues / Fotocom.net)
O topo do ranking foi o resultado do casamento quase instantâneo de duas medalhas: a de Felipe Kitadai e a de Sarah Menezes. A primeira foi de bronze. Enquanto o judoca enfrentava o italiano Elio Verde, gritava aos olhos a frieza dele. O brasileiro, no dia de seu aniversário de 23 anos, parecia não dar bola para nada que estivesse fora do tatame. Sequer parecia escutar o treinador dele. Dava pinta de ser a pessoa mais fria do mundo.
Que nada. Assim que o árbitro confirmou sua vitória, com um yuko no golden score, o paulista se transformou. Virou uma criança. Chorou de soluçar, de ficar desnorteado, de não conseguir falar. Com o kimono sujo de sangue, resultado de um dente quebrado, o judoca parecia entrar em um surto histérico. É um chorão esse medalhista olímpico. Um chorão em um país de chorões.
E os mais lacrimejantes mal tiveram tempo de se recompor. Meia-hora depois, era a vez de Sarah Menezes, de 22 anos, produzir choradeira – mais em quem acompanhou o feito do que nela própria. A judoca até que conseguiu se conter. Chorou logo depois de atropelar a romena Alina Dumitru, campeã olímpica em Pequim 2008, mas depois ficou sóbria, com o olhar distante, como se mergulhasse em um mundo paralelo, em um universo de sonhos.
Não faltaria quem dissesse que só em delírios uma criança de nove anos, ao decidir brincar de judô no Piauí, começaria a construir uma medalha de ouro – a primeira de uma mulher brasileira no esporte na história dos Jogos. Pensar nisso, para quem vive o esporte, dá vontade de chorar. O narrador do SporTV, Sérgio Maurício, foi vencido pela emoção já durante a transmissão – e desabou em lágrimas depois dela, como mostrou uma câmera do canal.
Thiago Pereira, Natação, 400m (Foto: Satiro Sodré / AGIF)Thiago mostra medalha de prata conquistada 
neste sábado (Foto: Satiro Sodré / AGIF)
Thiago Pereira foi o terceiro ato de um sábado que distribuiu todos os metais olímpicos ao Brasil. A medalha dele foi a de prata. Depois de ficar em quarto tanto em Atenas 2004 (justamente nos 400m medley) quanto em Pequim 2008 (nos 200m medley), o nadador chegou lá. Só perdeu para o americano Ryan Lochte, uma afirmação que ganha peso por também significar vencer o fenômeno Michael Phelps, quarto colocado (o terceiro foi o japonês Kosuke Hagino).
- O melhor é que eu ganhei esta medalha com Phelps e Ryan ao meu lado. Ele ainda é Michael Phelps. Ele é legal. É o maior atleta do mundo – disse Thiago mais tarde, ainda um pouco bobo com sua conquista.
Thiago Pereira não chorou – pelo menos na frente das câmeras. Mas tente imaginar como foi essa conquista para Rose Vilela, a mãe do nadador, aquela que por tantas e tantas e tantas provas se esgoelou gritando “Vaaaaaaaaai, Thiaaaaaagooooo!”.

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