Quando eu era mais jovem implicava com os cachinhos de Shirley Temple. Achava que ela era responsável por milhões de crianças em todo o mundo sofrerem por causas das mães que desejavam que as filhas ficassem parecida com ela. Mas a má vontade se dissipou diante do charme e naturalidade desse fenômeno que foi realmente a maior estrela infantil do cinema em todos os tempos. As outras, dezenas de imitadoras, nem chegaram perto. Embora tenha ficado chocado quando descobri que o estúdio sempre diminuiu a idade de Shirley, sempre lhe deram um ano a menos. Se fizeram isso com uma criança imaginem como mentiam sobre outras coisas.
Também sempre achei muito divertido um processo judicial que aconteceu quando o crítico de cinema e depois escritor Graham Greene escreveu dizendo que ela era uma anãzinha e a Fox ofendida resolveu processá-lo. Mas vamos e venhamos Shirley realmente parece gente grande. Obviamente era uma brincadeira.
O fato é que Shirley quando tinha seis anos, ooops, sete anos, ganhou um Oscar especial da Academia em miniatura por “ter trazido felicidade para milhões de crianças e milhões de adultos muito mais do que qualquer outra criança de sua idade na história do mundo”. A mais jovem pessoa a levar o prêmio até hoje! E não estavam exagerando. Shirley sabia fazer de tudo. Cantava, dançava, chorava, tinha tempo de comédia. Mas era principalmente uma gracinha. Uma pena que tinha que crescer.
A lenda de que certas estrelas foram responsáveis por salvar estúdios da falência quase sempre é real. Ao menos foi o caso de Shirley e seu estúdio Fox, na verdade o mais jovem de todos os grandes estúdios americanos. Ele estava nos seus difíceis anos de formação (para se ter uma ideia de como isso é difícil basta ver os problemas que teve Spielberg com a Dreamworks ou a Orion nos anos 80) nascido da junção da 20th Century com a Fox. E foi muito ajudada pela orientação do chefe da produção Darryl F. Zanuck, que foi quem orientou toda a carreira de Shirley.
Nascida oficialmente em 23 de abril de 1928, em Santa Mônica, uma região praiana da California, a poucos km do centro de Los Angeles, filha de um gerente de banco e desde pequenina demonstrou talento. Com quatro anos já começou a aparecer em alguns curta-metragens (calcula-se que foram 15 curtas). Até que em 1934 a Fox a descobriu e percebeu que tinham encontrado uma mina de ouro. E tiraram tudo o que era possível de Shirley, colocando-a em vários filmes por ano, todos parecidos, todos êxitos. Alguns deles, você pode já assistir no Brasil, em DVD (até há pouco eram raridades), como Anjo da Felicidade eSusannah.
Não é fácil hoje em dia imaginar o sucesso de Shirley teve em todo mundo (não apenas a imitação de seu cabelo naturalmente cacheado). Calcularam imagina que loucura, que ela tinha exatamente 56 diferentes cachos dourados. Ela foi a primeira a descobrir uma nova arma e fonte de dinheiro, o merchandising. Foram fabricadas bonecas, canecas, discos, chapéus, vestidos, tudo sempre a efígie ou semelhança dela. E que foram tremendo êxito mundial e que existem ainda até hoje no mercado. Shirley foi a numero 1 de bilheteria, votada pelos exibidores, entre 1936-37-38 batendo estrelas como Gary Cooper, Clark Gable ou Bing Crosby. Chegou a ser segurada pela famosa Lloyd´s de Londres. Ela é a origem de todas as Shirleys do mundo inclusive as futuras estrelas Shirley Jones e Shirley Maclaine.
Nos filmes ela sempre servia de cupido para alguém ou então era algum tipo de orfã que tentava amaciar o coração de um velho. Foi dirigida por John Ford mas mesmo ele não tinha muito trabalho. A garotinha era uma profissional, fazia tudo com perfeição. Se bem que o grande momento era mesmo quando a deixavam na mão do grande sapateador Bill Bojangles Robinson, com quem ela fez uma grande parceria. Os dois se tornaram amigos apesar de na época haver grande preconceito racial na sociedade americana. Os sapateados da dupla são inesquecíveis. E se a menina não tinha grande técnica compensava em simpatia e entusiasmo.
Naturalmente Shirley sofreu todas as pressões do sucesso, mas nunca deixou de ser uma criança relativamente normal. Ao menos não se viciou em drogas como sucederia depois com Judy Garland. Seu único problema era inevitável: ela tinha que crescer. Bem que a Fox tentou evitar isso. Mas não conseguiu. Era Shirley que deveria ter feito O Mágico de Oz na MGM, mas o contrato não deu certo (naturalmente Judy virou grande estrela com esse filme). A Fox replicou produzindo outra fantasia colorida (coisa rara e cara na época) com O Pássaro Azul (1940), uma bela alegoria que não teve o resultado esperado. Era o fim de Shirley como atriz infantil.
Sua transição para a fase de adolescente foi complicada. Continuou baixinha (1m57). O produtor David Selznick ( E o Vento Levou) resolveu investir nela e chegou a colocá-la em alguns filmes, como Desde que Partiste, onde fazia a filha de Claudette Colbert e irmã de Jennifer Jones, todas sofrendo porque os homens foram lutar na Segunda Guerra mundial. E no romance Verte ei Outra Vez/I´ll Be Seeing You, 44, com Ginger Rogers e Joseph Cotten. E o amigo John Ford a chamou novamente para participar de Sangue de Heróis, Forte Apache, de 48, uma fita classe Classe A, onde ela compartilhava o elenco com astros do calibre de John Wayne e Henry Fonda.
Ford também deu uma chance para o marido de Shirley. É que ela tentando se livrar do jugo da família se casou aos 18 anos com um sargento do exército, o jovem John Agar (1921-2002). O casamento não duraria muito, mas Agar seria coadjuvante pelo resto da vida, em geral em fitas de Wayne (o casamento acabaria em 1950). Shirley se cansaria da vida de atriz. Em 1949, quando tinha apenas 21 anos largou o cinema para sempre. Em dezembro de 1950, se casaria de novo com um homem de negócios com quem teria dois filhos e com que viveria até a morte dele em 2005.
Voltaria ao noticiário como embaixadora do governo americano, em Gana e na Checoslováquia, e sendo das primeiras celebridades a lutar publicamente contra o câncer no seio. Nunca envolvida em escândalos. Nunca manchando a memória daquela menina de cachinhos. Ganhou em 2006 um prêmio especial pela carreira pelo Sindicato dos Atores que a apontou com exemplo de profissionalismo. Subiu ao palco já com dificuldade, mas ainda sorridente, com a covinha. Uma bela e digna senhora. Como disse uma vez: “Qualquer estrela pode ser devorada pela adoração humana. Brilho a Brilho”. Felizmente isso não aconteceu com ela.
Filmografia
Shirley começou participando de curta-metragens com elenco infantil as vezes como Shirley Anne Temple, as vezes sem crédito.
1932- Kid´s Last Stand. Runt Page. War Babies, Red Haired Alibi. The Pie-Covered Wagonl
1933- New Deal Rhythm. Glad Rags to Riches. Kid in Hollywood. Out All Night. The Kid´s Last Fight. Polly Tix in Washington. Dora´s Dunking Doughnuts. To the Last Man. Merrily Yours Kid´in´Africa. What´s To Do. 1934- Pardon my Pups. As the Earth Turns (sem crédito) Managed Money.
1933- New Deal Rhythm. Glad Rags to Riches. Kid in Hollywood. Out All Night. The Kid´s Last Fight. Polly Tix in Washington. Dora´s Dunking Doughnuts. To the Last Man. Merrily Yours Kid´in´Africa. What´s To Do. 1934- Pardon my Pups. As the Earth Turns (sem crédito) Managed Money.
Longas:
1934- Carolina (Idem). Capricho Banco (Mandalay.Cenas cortadas) ). Stand up and Cheer! Quando Nova York Dorme (Now I´ll Tell). Seu
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